Introdução
Devido a uma alteração patológica funcional ou orgânica com origem na região cervical, a cefaleia cervicogênica é descrita por uma sensação dolorosa, as vezes queimação, peso ou aperto, também se apresenta de forma paroxística na região occiptal com irradiação para as regiões frontal, temporal, retro auricular ou ocular, podendo ocorrer ou não fenômenos neurovegetativos como eritema ocular e edema
palpebral (RACHID; PINHEIRO, 2009). Como ocorre nas enxaquecas, nas cefaleias cervicogênicas também podem ser observados sintomas como náusea, vômito, irritabilidade e fotofobia. Para um melhor diagnóstico são examinados aspectos específicos como zonas de gatilho, em que as percebe-se uma intensificação com movimento cervical ou por se manter por muito tempo em uma mesma postura.
Dentre as diversas intervenções terapêuticas a fisioterapia se apresenta como um importante tratamento no controle sintomatológico. A terapia manual é uma abordagem utilizada para tratamento pela maioria dos fisioterapeutas, contudo, são poucos os achados literários que
descrevem a efetividade dessa técnica (ALMEIDA et al., 2014).
As cervicalgias são comuns em todas as idades e em ambos os sexos e apresentam um dos maiores conjuntos de sinais dolorosos corporais sendo menor apenas que a dor lombar. A cervicalgia atinge em média até 4% da população adulta em alguma fase da vida sendo observada da maneira aguda ou crônica e são resultados de desordens biomecânicas e musculoesqueléticas, que dão origem a quadros de algias, inflamações e perda de amplitude de movimento (SILVA et al., 2012).
Ao investigar possíveis tratamentos observou-se que a compressão de estruturas cranianas desencadeia dor, uma vez que eles passam pelos forames e ao serem comprimidos podem desencadear alguns danos viscerais. A Sociedade Brasileira de Cefaleia, em estudo de 2002, pontuou dois tipos de tratamentos para a cefaleia; os farmacológicos e os não farmacológicos, que são o biofeedback, técnicas de relaxamento, terapia cognitiva comportamental, dieta, acupuntura, psicoterapia, fisioterapia, homeopatia e vários outros métodos terapêuticos, porém com poucas informações científicas. A fisioterapia apresenta diversas técnicas e condutas para a prevenção e
reabilitação de indivíduos com cefaleia. Dentre elas, a terapia manual tem por objetivo a normalização do equilíbrio membranoso com consequentemente a liberação dos micromovimentos do crânio, drenagem venosa, diminuição de compressão nervosa e relaxamento
dos tecidos moles relacionados (MACEDO et al., 2007).
A Quiropraxia nasceu nos Estados Unidos da América (EUA) há mais de 100 anos e sua prática é voltada para o tratamento das desordens
musculo-esqueléticas. Alguns estudos tem evidenciado a eficiência dessa técnica no tratamento de diversas afecções
musculo-esqueléticas. A manipulação, ou ajuste, nada mais é que a movimentação passiva de uma vértebra com alta velocidade e baixa amplitude, dentro da possibilidade da mobilidade fisiológica e dentro da capacidade anatômica (BRACHER; BENEDICTO; FACCHINATO, 2013).
O presente estudo tem como objetivo analisar e demonstrar os métodos fisioterapêuticos no tratamento da cefaleia cervicogênica através da terapia manual utilizando a técnica da quiropraxia.
Cefaleia Cervicogênica
A Cefaleia Cervicogênica é consequência de alterações nas vértebras cervicais e desordens musculo-esqueléticas. A dor é referida durante movimentos ativos do pescoço, posicionamento passivo geralmente extensão as vezes associada a rotação do pescoço para o lado dolorido, sendo descrito como dor que se origina na coluna. Essa dor também é relacionada com a hipermobilidade da articulação das vertebras cervicais, alteração de movimentos e fraqueza muscular regional. Em muitos casos a cefaleia cervicogênica e a enxaqueca são confundidas, porém, a cefaleia é observada com dor na nuca ou lobos frontais, e é identificada por episódios de dor em peso, sensação de aperto no crânio e queimação que pode se apresentar de forma latejante, dor em pontada na região occipital que se irradia para a região temporal, frontal ou ocular. Em alguns casos há presença de sintomas neurovegetativos (CORDEIRO; BARROS, 2019).
Avalia-se que em menos de 10% dos casos, a cefaleia cervicogênica é identificada erroneamente como uma enxaqueca comum.
Para que esse erro não ocorra devem ser seguidos os critérios estabelecidos pela classificação de 1988 da Sociedade Internacional de Cefaleia, no qual se destacam dor normalmente unilateral, ocasional e de dor variável; inicia na parte cervical irradiando ou não para toda a cabeça; ocorre resistência ou limitação de movimento do pescoço; ocorrem alterações regionais da musculatura; bloqueio anestésico de C2 ou nervo occipital maior suprime a dor; e os pacientes geralmente têm história de trauma cervical (RACHID; PINHEIRO, 2009).
Vários autores e estudos mostram que a cefaleia é a dor que mais acomete jovens trabalhadores e estudantes, identificando importante e grande problema de saúde pública com forte impacto socioeconômico. É muito comum que fisioterapeutas lidem com esse tipo de dor na pratica clínica. È possível identificar, em relação ao tratamento, vários tipos de técnicas relatadas na literatura como a eletroterapia, acupuntura, tração cervical, cinesioterapia e tratamentos constituídos por alongamentos, relaxamentos musculares e mobilizações vertebrais (MORELLI; REBELATTO, 2007).
Terapia Manual
A terapia manual tem por objetivo trabalhar o corpo de modo a restabelecer o equilíbrio corporal, recuperar movimentos que se encontrem restritos devolvendo a função articular. Algumas técnicas manuais se destacam no tratamento das cefaleias, como a osteopatia e a quiropraxia, que buscam a causa da dor (CORDEIRO; BARROS, 2019).
A terapia manual possui uma grande quantidade de técnicas para cada grupo musculo-esquelético e para determinadas articulações no tratamento da dor que são divididos naquelas que envolvem manipulação, mobilização e tração manual e as que envolvem diferentes tipos de massagem ou o tratamento dos pontos-gatilho (CALIL, 2022).
Quiropraxia
A quiropraxia é uma técnica que procura estabelecer e corrigir, através de manobras ou ajustes, a postura e o equilíbrio corporal do paciente. É baseada no diagnóstico, tratamento e prevenção de condições do sistema musculo-esquelético, além de ser indicada para restaurar a função articular, devolvendo a integridade neurológica e influenciando os processos fisiológicos. A quiropraxia é uma pratica clínica fisioterapêutica que tem por objetivo ajustar vertebras quando se encontram mal articuladas levando o paciente a apresentar limitação de movimentos bem como áreas dolorosas. Com a quiropraxia, uma vertente da terapia manual, é possível restabelecer a amplitude do movimento do local acometido, restabelecer a função articular total, reduzir a dor e possíveis edemas restabelecendo a funcionalidade corporal e articular (SILVA et al., 2012).
A manipulação ou ajuste articular é normalmente acompanhado de um estalido que nada mais é que o mecanismo de cavitação articular que acontece no momento de uma manobra. A cavitação ocorre quando a articulação recebe uma força de tração, a separação da articulação leva à redução da pressão intraarticular do líquido sinovial, observa-se então a invaginação da cápsula articular e a redução da pressão intra articular. A diminuição da pressão intra-articular vai fazer com que se formem bolhas de gás carbônico neste espaço que vai levar a paralização da força de coaptação entre as superfícies articulares apostas, fazendo com que elas se separem momentaneamente. Essa ligeira movimentação permite o abrupto tensionamento da cápsula articular, gerando a vibração dos tecidos periarticulares e emitindo a famosa onda sonora (BRACHER; BENEDICTO; FACCHINATO, 2013).
A quiropraxia possui como base movimentos de ajustes articulares chamados de quiropraxicos, que permitem a realização dos movimentos artrocinemáticos normais e micromovimentos da coluna vertebral, que proporcionam a redução da compressão neural responsável pela dor da região acometida. Ainda que existam muitas pesquisas sobre o assunto, não existe consenso na literatura com relação ao melhor tratamento para dores originarias da região cervical, existindo grande contraposição entre as terapias a serem utilizadas, tendo se destacado nos últimos anos as terapias manipulativas como a quiropraxia (SILVA et al., 2012).
Uma das ideias iniciais da quiropraxia e da osteopatia, evidenciando a coluna vertebral, é que a disfunção somática gera aferência nociceptiva que influencia o sistema nervoso autónomo. Algumas dessas disfunções articulares evidenciam alguns sinais como a sensibilidade a palpação na articulação, arco de movimento e amplitude de movimento restrito, tensão muscular, artrocinemática e sensibilidade ao final de movimento alterado e alterações sensoriomotores (NOGUEIRA, 2008). METODOLOGIA
Este trabalho trata-se de uma revisão bibliográfica qualitativa de caráter exploratório e descritivo, visto que seu objetivo é analisar, compreender e conceituar as ideias propostas e narrativas apresentadas descrevendo seus estudos e dados coletados.
Para a busca do levantamento bibliográfico deste estudo foram utilizados artigos e revistas científicas sobre o assunto, colhidas em base de dados. Foram utilizados como base de pesquisa PubMed, Scielo, Revista Fisioterapia e Pesquisa e Google Acadêmico. Foram incluídos estudos de 2007 a 2020 com preferência para estudos randomizados e revisões sistemáticas, porém alguns estudos primários foram incluídos por apresentarem bons resultados e abordarem a temática do trabalho. Os critérios de exclusão foram artigos com data anterior a 2005, pesquisas consideradas de baixa qualidade metodológica, estudos que não fazem parte do assunto principal.
Inicialmente foram selecionados 23 artigos para análise de conteúdo, sendo destes apenas 8 artigos analisados.
Análise e Discussão dos Dados Recolhidos
Este trabalho tem pretende analisar e documentar as pesquisas já realizadas para reforçar a eficácia da quiropraxia no tratamento da cefaleia cervicogênica sendo um método seguro, não invasivo, para alivio da sensação dolorosa sem uso medicamentoso.
Cordeiro e Barros (2019) realizaram uma revisão de literatura com intuito de verificarem os benefícios da terapia manual na cefaleia cervicogênica e puderam concluir que as técnicas manipulativas ajudam não só na redução da dor, mas também no uso habitual do tratamento medicamentoso se mostrando uma técnica eficaz e que não apresenta perigo ao paciente. Hugh e Peter (2010) ressaltaram que a técnica de manipulação quiroprática, a mobilização e a técnica com instrumento ativador são eficazes no tratamento da dor no pescoço. Os mesmos realizaram um estudo onde avaliaram 47 participantes sendo divididos em 3 grupos,16 manipulação, 16 instrumento ativador e 15 mobilização. O estudo precisou ser interrompido devido à dificuldade para captar participantes, mas mesmo limitada, a amostra evidenciou um resultado positivo ainda que a longo prazo. Silva et al. (2012) afirmam que ainda não existe uma quantidade de estudos satisfatória que possam fundamentar a utilização das técnicas bem como comprovar os reais efeitos do tratamento quiroprático no paciente com dor cervical. A conclusão veio com a produção do estudo a partir da seleção de 6 artigos em que foram analisados a forma de tratamento e resultados, e tempo de tratamento e acompanhamento. O estudo avaliou 366 pacientes com dor cervical, dividiu-os em 3 grupos nos quais foram aplicadas técnicas de mobilização articular, manipulação cervical e fisioterapia convencional.
Lima et al. (2021) realizaram uma pesquisa quantitativa com 18 participantes em que aplicaram a escala de EVA antes e após a aplicação da tecnica quiropratica na região cervical durante 4 sessões. Percebeu-se que ao passar das sessões o valor da dor diminuia significativamente confirmando a eficácia do tratamento através de uma técnica de baixa amplitude e alta velocidade. Na pesquisa de Hurwitz et al. (2002), foram selecionados 366 pacientes e divididos em grupos: manipulação com e sem calor, manipulação com e sem eletro estimulação, mobilização com e sem calor ou mobilização com e sem eletro estimulação. Todos foram acompanhados por 6 meses sendo avaliados em dor e incapacidade em 2 e 3 semanas e em 3 e 6 meses. Os resultados mostraram que tanto a mobilização quanto a manipulação, associadas ou não ao calor e a eletro estimulação apresentaram melhorias semelhantes depois de 6 meses de acompanhamento.
Segundo Lemos, Pereira e Figueiredo (2012), após a análise realizada com relação ao nível de dor dos pacientes que apresentaram quadro de cefaleia por conta de desordens musculo-esqueléticas na região cervical, o resultado consideravelmente menor, conforme relatado pelos pacientes. A análise desse estudo foi realizada com 30 pacientes com queixa principal de cefaleia por pelo menos 4 dias na semana e foram aplicadas 3 sessões de quiropraxia. Foram analisados também o nível de dor antes e após o tratamento, bem como os episódios de dor após o tratamento e as vertebras acometidas. De acordo com os trabalhos selecionados pode-se concluir que os autores concordam com a eficácia da quiropraxia no tratamento da cefaleia cervicogênica, porém alguns ainda pontuam a necessidade de se realizar mais estudos, se produzir mais materiais que possam corroborar com os já produzidos para uma maior avaliação e uma maior segurança na afirmação dos efeitos da técnica.
Considerações Finais
Diante do exposto, pôde-se verificar que a cefaleia cervicogênica é uma das algias mais comuns junto com a dor lombar e seu tratamento pode ser associado ou não a terapias alternativas. A terapia manual, manipulativa, tem se mostrado uma técnica eficaz no tratamento das desordens musculo-esqueléticas, em especial da cefaleia do tipo cervicogênica, e como ficou evidente, a quiropraxia é uma técnica segura e que apresenta resultados imediatos reduzindo a sintomatologia dolorosa no tratamento da coluna cervical Por outro lado, há escassez de materiais científicos enfatizando e fundamentando as técnicas da quiropraxia no tratamento da cefaléia, permitindo uma melhor e mais abrangente investigação dos efeitos causados quando aplicado os “ajustes”.
Autor
Maykon Junio Perreira Neves
Referencias
ALMEIDA, Renato Santos de et al. Efeitos da terapia manual na cefaleia do tipo cervicogênica:
uma proposta terapêutica. Acta Fisiátr. [Internet], 09 de Junho de 2014.
BRACHER, Eduardo Sawaya Botelho; BENEDICTO, Camila de Carvalho; FACCHINATO, Ana Paula Albuquerque. Quiropraxia. Revista de Medicina, p. 173-182, 2013.
CALIL, Thiago Martins. A eficácia da terapia manual no tratamento da dor. Revista Científica semana acadêmica, 2022.
CORDEIRO, Helena Ferreira; BARROS, Renê Augusto de almeida. Os benefícios da terapia manual na cefaléia. Revista Científica Eletrônica de Ciencias aplicadas da FAIT, 2019.
GEMMELL, Hugh; MILLER, Peter. Relative effectiveness and adverse effects of cervical manipulation, mobilisation and the activador instrument in patients with sub-acute nonespecific neck pain: results from a stopped randomised trial. BioMed Central, 09 de Julho de
2010: 14.
HURWITZ, Eric L. Et al. Um ensaio randomizado de manipulação e mobilização quiroprática para pacientes com dor no pescoço: resultados clínicos do estudo de dor no pescoço da UCLA. American Journal of Public Health, v. 92, n. 10, outubro de 2002.
LEMOS, Thiago Vilela; PEREIRA Lorena M.; FIGUEIREDO, Alexandre A. Tratamento Quiropráxico nas Cefaleias Crônicas por Compressão da Artéria Vertebral. Revista Movimenta, v. 5, n. 2, 2012.
LIMA, et al. A influência da quiropraxia na dor cervical de origem postural. Research, Society and Development, v. 7, 20 de dezembro de 2021. MACEDO, Guerino et al. Eficácia da terapia manual craniana em mulheres com cefaléia. Fisioterapia e Pesquisa, 2007.
MORELLI, José Geraldo da Silva; REBELATTO, José Rubens. A eficácia da terapia manual em indivíduos cefaleicos. Revista Brasileira de Fisioterapia, p. 325-329, 2007.
NOGUEIRA, Leandro Alberto Calazans. Neurofisiologia da terapia manual. Fisioterapia Brasil, p. 414-421, 2008.
RACHID, Renata Megre; PINHEIRO, Liane Toscano Martins. A terapia osteopática manipulativa na cefaléia cervicogênica. Revista Brasileira em Promoção da Saúde, p. 128-134, 2009.
SILVA, Vaentim da et al. Efeitos da quiropraxia em pacientes com cervicalgia: revisão sistemática. Revista Dor, São Paulo, v. 13, n.1, p. 71-74, 2012.
Artigo retirado do site: periodicoscientificos.com.br
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